Uma fala bastante comum entre profissionais que trabalham com a primeira infância é que o bebê precisa de estímulo para se desenvolver. De fato isso é verdadeiro. Mas, ao contrário do que muitos pensam, a estimulação, salvo algumas exceções, não requer nenhuma atividade específica ou especializada. Desde que haja condições ambientais favoráveis, ou seja, vínculos afetivos e um ambiente físico preparado, os estímulos que promovem o desenvolvimento do bebê se encontram no seu cotidiano.
Na vida intrauterina e após o nascimento, toda experiência do bebê passa pelo corpo. É através dele que o bebê expressa suas sensações de prazer ou desprazer, bem estar ou mal estar, dor ou desconforto. É com o corpo que o bebê vivencia suas descobertas e conhecimentos de si e do mundo. Na medida em que oferecemos ao bebê um ambiente seguro, aconchegante e relaxado o suficiente para que ele possa se expressar livremente, permitimos-lhe seguir em suas observações e explorações. Em outras palavras, permitimos-lhe brincar!
Através do brincar o bebê conhece seu próprio corpo e limites, reconhece o mundo exterior e o limite entre ele e as pessoas e objetos que o cercam. Brincar possibilita que construa sua compreensão de mundo, a noção de tempo e espaço, de causa e efeito. Contribui para estreitar os vínculos afetivos, para superar os medos e elaborar conflitos, além de favorecer o desenvolvimento da criatividade, da imaginação, da solução de problemas e a construção de recursos internos para lidar com as dificuldades que se apresentarão ao longo da vida.
Podemos dizer que o bebê brinca desde que nasce. Ele olha o que tem ao seu redor, brinca com suas mãozinhas, com o lençol que o cobre, com a roupa de quem o cuida. Brinca com os sons que sai de sua boca, com os movimentos que consegue fazer com seu corpo, com o que lhe é oferecido e com o que é capaz de buscar sozinho. Brinca com quem se dedica aos seus cuidados, especialmente quando este responde às suas brincadeiras.
O brincar favorece o desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor. Brincando o bebê explora os movimentos de seu corpo, experimenta ficar em novas posições e espaços, o que é essencial para sentir-se confiante e capaz de dar um passo adiante em suas conquistas motoras. Tais experimentações, contudo, só acontecem diante de uma condição ambiental suficientemente segura e livre.
O adulto precisa considerar o bebê um sujeito potente e ativo, não um mero receptor de cuidados. Por maior que seja sua dependência em relação ao adulto, o bebê, desde bem pequeno, já esboça preferências e movimentos autônomos e colaborativos, se lhe dermos chances para isso. No trocador, por exemplo, se não tivermos pressa, é possível, na medida em que antecipamos e dizemos ao bebê o que estamos fazendo, que ele ofereça seu bracinho ou perninha para ser vestido ou despido. Respeitar o ritmo do bebê é confiar na sua capacidade de desenvolvimento e independência. Por isso, não há necessidade do adulto ensinar a criança a sentar, engatinhar, andar, etc.
Não se deve adiantar nenhuma fase, nem colocar a criança em uma posição que ela não tenha conquistado por si mesma, para a qual talvez ainda não esteja pronta ou não consiga sair sozinha. Por exemplo, não devemos colocar bebês sentados com apoio se eles ainda não conseguem sentar sozinhos. A conquista própria de posturas permite que o bebê volte à posição anterior sempre que tiver vontade, de forma segura e controlada. Assim, ele pode experimentar essa situação diversas vezes, até que a nova posição esteja bem assimilada, sem que um adulto precise ajudá-lo.
Permitir ao bebê brincar sozinho não é deixá-lo desassistido, mas sim estar presente através da observação e de eventuais intervenções que possam se fazer necessárias. Para brincar sozinho, o bebê precisa da segurança que é conferida com a presença do adulto em seu campo de visão. Quando o adulto precisa se ausentar brevemente, é importante marcar sua saída, informando onde estará e quando retornará. O adulto pode continuar, mesmo à distância, dialogando com ele, cantando uma musiquinha. A voz do cuidador também ajuda o bebê sentir-se seguro nos momentos de breve ausência.
Outro aspecto essencial para favorecer o desenvolvimento dos bebês é o ambiente físico, que deve ser preparado e organizado para que os bebês tenham espaço a sua volta e possam descobrir e exercer suas possibilidades motoras enquanto brincam. A partir dos três meses, os bebês devem ser colocados no chão, sempre de barriga para cima, onde possam se movimentar a vontade, para que passem por todas as etapas do desenvolvimento motor: deitar de lado, de bruços, rolar, engatinhar, sentar, ficar de pé e andar. Deve-se ressaltar que esses espaços precisam ser aconchegantes, seguros (cercados), preferencialmente com piso quente (como madeira, MDF ou EVA), para que possam se movimentar com liberdade, interagir com outras crianças e explorar seu entorno sem riscos.
Do mesmo modo, precisamos estar atentos a tudo que pode limitar seus movimentos: roupas e sapatos apertados ou desconfortáveis, e acessórios, equipamentos ou objetos que limitem a livre exploração. Por mais que o berço, o carrinho e o bebê conforto forneçam um espaço seguro, este espaço é muito limitado para quem está em desenvolvimento e precisando explorar seu próprio corpo e o que tem à sua volta.
A partir de três meses, os bebês devem ficar nos berços apenas enquanto dormem ou repousam. Quando despertos, é importante que possam ficar em outros ambientes da casa ou ao ar livre. É importante também que o bebê tenha acesso a diferentes objetos que possam ser levados à boca, tateados, acarinhados, arremessados, puxados, apertados, colocados um dentro do outro, empilhados.
Os brinquedos para bebês devem propiciar diversidade de experiências e o desenvolvimento da fantasia. Eles não precisam ser muito elaborados e em grande quantidade – objetos simples como panos coloridos, fitas de cetim, caixas, potes, bacias, espelhos, chocalhos, peneiras e colheres de pau ou plástico podem oferecer horas de brincadeiras às crianças, pela riqueza do novo e pela plasticidade de se “transformarem” de acordo com a imaginação. O brinquedo pronto, elaborado, que “faz tudo sozinho”, deixa a criança numa posição passiva, uma vez que não dá muita brecha para as fantasias e as descobertas se manifestarem.
É preciso estar atento para que os brinquedos não tirem ou substituam o tempo de interação entre o educador e a criança. O educador deve também brincar com o olhar, com as palavras, com seu próprio corpo (batendo palmas, fazendo caretas, sons com a boca), bem como cantar músicas, fazer cócegas, brincar de “Cadê? Achou!”, usando a toalha ao sair do banho ou a roupinha na hora da troca, criando uma relação de intimidade e de afeto com o bebê.
Conforme o bebê cresce ele convoca cada vez mais o lugar de brincante do educador. Ele arremessa e arrasta objetos, se esconde, coloca brinquedos menores dentro dos maiores. O que a princípio pode ser algo chato para o adulto por conta da repetição de ações ou mesmo pela eventual bagunça que se faça, são ricos jogos que contribuem para o desenvolvimento emocional da criança. Por isso, empreste-se ao bebê para estas brincadeiras!
Brincar é bom e muito saudável. Contudo, todo excesso pode ser cansativo e estressante para o bebê. Quando ele esboçar sinais de que seu tempo numa determinada atividade ou local da casa foi suficiente, valide seu pedido de que é hora de parar. Afinal, descansando ele recuperará energia para o próximo momento de descobertas.
Fonte: Tatiana Barile
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