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O comportamento da criança mudou? Pode ser culpa da pandemia. O que fazer




Estava diante de uma família, com uma criança de 3 anos – que acompanhei desde o nascimento –, pedindo ajuda. “Dra. Kelly, não reconheço mais meu filho. Antes, era uma criança doce e meiga, nunca havia “dado trabalho” e, agora, está agressiva, batendo em todos e desobediente, sem motivo algum. Dura


nte a pandemia, tive que abrir mão da ajuda dos meus avós e do carinho deles”. Com os olhos marejados de lágrimas, a mãe continuou: “Eu e meu marido passamos a trabalhar em casa e, ao mesmo tempo, cuidar de uma criança. Bem, você pode imaginar como ficamos”.

Deu para perceber o sentimento de culpa e um cansaço físico e mental. A mãe limpou a garganta, como se tivesse algo engasgado. “Sabe doutora, meu filho ficou mais no celular do que eu gostaria, brincou menos do que eu gostaria, teve menos de mim do que eu gostaria…” Uma pausa e ela voltou a se emocionar. “Eu realmente temo pelo seu desenvolvimento, por tudo aquilo que deixou de viver e sentir”. Agora, nesse momento, eram os meus olhos que já estavam cheios de lágrimas. “Realmente, foi algo que nenhuma criança merecia viver”.


Não passear quando quiser, ter menos espaço para brincar, não poder abraçar e encontrar amiguinhos e outros familiares, não ir mais a festas de aniversário nem a viagens de férias ou até mesmo para a escola, além de conviver com adultos mais irritados e ansiosos. Esse combo que veio associado ao confinamento tem, literalmente, tirado o sono dos pais. Para completar, há o descontrole do uso das telas, que tem prejudicado nossos filhos mais do que imaginaríamos. O mundo mudou, assim como a vida das crianças.


Essas são apenas algumas situações que, de alguma forma, tem deixado os pequenos irritados, agressivos e com alterações de sono. Te parece familiar?


Apesar de apresentarem, geralmente, manifestações clínicas mais leves após um eventual diagnóstico de Covid-19, a verdade é que as crianças também estão pagando um preço alto nessa pandemia. Após um ano e meio, são inevitáveis as consequências do isolamento social na saúde mental delas. Se para os adultos já é difícil, imagine nessa fase da vida, em que o desenvolvimento depende tanto da vida, em que o desenvolvimento depende tanto da interação – só que as escolas foram fechadas.


As meninas e os meninos sentem essas mudanças e podem reagir de diferentes formas. Além daquelas que já mencionei, ligadas à agressividade, podem ocorrer também isolamento, dificuldade de concentração, ansiedade, regressão de marcos – como perda de controle de esfíncteres – e até depressão.


Alguns sintomas são mais sutis, como apresentar menor prazer e vontade em brincar, ter sonolência excessiva ou falta de sono, roer as unhas e exibir regressões no comportamento.


É preciso prestar atenção.


Em longo prazo, essas reações podem se tornar problemas sérios, a exemplo de transtornos depressivos e ansiosos, distúrbios de desenvolvimento e de sono, transtornos do comportamento, etc. Temo pela doença, sim. Mas, hoje, o meu maior temor é pelo desenvolvimento infantil, que sofrerá um impacto que não conseguimos mensurar agora.


Particularmente a formação do vínculo emocional se dá nos primeiros anos de vida. Já imaginou o que pode acontecer se isso sair prejudicado por causa de transtornos mentais e emocionais presentes nesse período tão decisivo? Mas, calma. Não vou deixá-los morrer na praia. Quero trazer alguma luz para esse assunto tão difícil e delicado.


Felizmente, é possível agir e mudar essa situação. Enquanto pais, somos os principais auxiliares de nossos filhos e podemos reconhecer alguns sinais de tensão e ajudá-los a lidar com isso. Afinal, o impacto do estresse emocional pode ser amenizado a partir de algumas medidas comprovadas cientificamente e recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Vem cá que vou te ajudar! Veja o que pode ser feito:


1. Converse com seu filho e organize uma rotina em família

Crie uma rotina previsível, mesmo dentro de casa, e faça de tudo para cumpri-la.

As crianças funcionam muito bem com rituais pré-estabelecidos. Isso dá segurança e ajuda na organização de suas atividades, principalmente no que diz respeito a alimentação e sono.


2. Mexa-se!

Faça atividade física diariamente e procure envolver seus filhos também, de preferência ao ar livre, proporcionando contato com a natureza. Os exercícios auxiliam na redução de estresse e ansiedade, além de melhorar o sono, prevenir doenças e contribuir para o crescimento e desenvolvimento da criança.


3. Procure manter uma alimentação saudável

É normal que, dentro de casa, as crianças acabem gastando menos energia e tenham o apetite reduzido. Sem falar que tendem a buscar mais “besteiras”, como como doces e produtos industrializados. Mas não deixe isso se tornar um hábito, porque depois será difícil de tirá-lo. Seja exemplo também nesse aspecto, estabelecendo uma rotina alimentar e evitando beliscar entre as refeições. Faça combinados e cumpra-os.


4. Use a tecnologia a seu favor, mas com moderação

Limite o tempo de telas durante o dia, mas, quando precisar, saiba utilizá-las de forma consciente, segura e saudável. Ao invés de deixar a criança sozinha com o celular, que tal fazer uma chamada de vídeo com o amigo da escola ou com os avós? Priorize vídeos educativos e interaja com a criança durante o uso de telas. Se for colocar uma música, faça gestos e dance junto. Se o vídeo ensinar algo, como nome de animais, cores e formas, repita as palavras com ele.


5. Seja um exemplo pro seu filho

Crianças são como esponjas. Elas absorvem e aprendem aquilo que vivem diariamente, e espelham o comportamento dos pais. Por isso é tão importante que os adultos estejam bem em relação à sua própria saúde física e mental, além de dar o exemplo em termos de uso moderado de telas e alimentação equilibrada. Quando estiver com seus filhos, faça o máximo para estar realmente 100% com eles. Desligue o celular, leia e brinque muito.


As crianças estão adoecendo por dentro sem que a gente se dê conta disso. É preciso começar a pesar na balança os riscos relacionados ao isolamento social, considerando que atividades ao ar livre – muito enriquecedoras do ponto de vista de desenvolvimento – são justamente as mais seguras nesse momento de pandemia. As crianças precisam viver intensamente essa fase chamada infância, que não volta mais.



Por Kelly Oliveira - @pediatriadescomplicada





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