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Por que objetos materiais em excesso podem deixar crianças infelizes



Quando o filho de Choncé Maddox estava no primeiro ano do ensino fundamental, ela sentia como se sua casa estivesse atolada de objetos: ele tinha tantos brinquedos e jogos que ela mal conseguia dar conta de organizá-los.


“Comprar um monte de bugigangas só estimula querer mais”, afirma Maddox, escritora e blogueira de finanças pessoais. “Não melhora o humor no longo prazo nem acaba com o tédio aos fins de semana. Queria ensinar essa lição cedo ao meu filho para que não crescesse acreditando que poderia comprar o caminho para a felicidade.”

É por isso que Maddox mudou sua tática de comprar muito para fazer muito.


Pesquisas sugerem que a ênfase no dinheiro e em bens materiais durante a infância pode definir valores materialistas ao crescer. E embora crianças precisem entender de onde vem o dinheiro e como é adquirido, a convicção de que consumir muito é o segredo da felicidade pode ser prejudicial ao desenvolvimento infantil.


“Somos atraídos a objetos materiais porque nos proporcionam um novo ânimo”, afirma Lan Nguyen Chaplin, professora associada de marketing da Universidade de Illinois em Chicago. “Mas ficamos presos no seguinte ciclo de raciocínio: ‘se eu tivesse aquele brinquedo ou aquela camisa, seria mais feliz’.”


Enquanto muitos norte-americanos aguardam o novo auxílio emergencial por meio de cheques previstos para serem recebidos em breve, pode ser uma ótima oportunidade para iniciar uma conversa com as crianças sobre valores financeiros. Veja como o materialismo pode prejudicar as crianças e como os pais podem ensiná-las melhores maneiras de consumir.


Materialismo e felicidade

O materialismo em jovens está fortemente associado à baixa autoestima, bem como à depressão, ansiedade, desmotivação e comportamentos egoístas. Da mesma forma, adultos materialistas costumam ser mais inseguros, menos generosos e relatam ter menor bem-estar subjetivo.

Pesquisadores sugerem que é um ciclo vicioso. Em outras palavras, sentimentos de baixa autoestima podem alimentar o desejo por bens materiais que acreditamos que nos farão felizes e simbolizam o sucesso. Mas quando esses bens não correspondem às nossas expectativas, ficamos ainda mais insatisfeitos, perpetuando o padrão de desejar e comprar.

E, inicialmente, você de fato sente uma grande alegria — até o próximo objeto de desejo.


Aliás, pesquisas com técnicas de neuroimagiologia sugerem que fazer compras pode ativar os sistemas de recompensa do cérebro e liberar dopamina, substância química responsável pelo bem-estar — mas esses efeitos são apenas transitórios. A dopamina também está associada ao aprendizado; quando algo nos faz sentir bem, temos mais probabilidade de repetir o comportamento.


O cérebro em desenvolvimento dos jovens pode até mesmo ser mais suscetível a essas recompensas. Por exemplo, o núcleo accumbens, conhecido como o centro de prazer do cérebro, apresenta um pico de atividades durante a adolescência.


Como promover uma dissociação entre objetos materiais e a felicidade em crianças

Quer saber a boa notícia? Os pais podem neutralizar algumas das mensagens materialistas recebidas pelos filhos a partir de colegas e propagandas. “O segredo está em passar algum tempo com os filhos, comunicar-se com eles e promover um sentido de identidade própria positiva”, observa Chaplin.


Evite usar bens materiais como punição e recompensa. Do contrário, os pais poderão estar reforçando, sem perceber, mensagens materialistas por meio de algo denominado criação materialista dos filhos, ou o uso de bens materiais como recompensa por bons comportamentos e sua privação como punição por maus comportamentos. Essa é uma estratégia comum, explica Chaplin. “Mas, no longo prazo, há um enfoque em objetos materiais e as crianças crescem dando muita importância a eles como um sinal de sucesso e conquista.”


Em um estudo, Chaplin e seus colegas pediram a adultos que recordassem em que medida seus pais utilizavam objetos materiais como recompensa ou punição por diferentes comportamentos. Os participantes cujos pais empregaram essa estratégia eram mais propensos a julgar o sucesso dos outros com base nos bens materiais possuídos por eles e em sua quantidade.


Falando sobre publicidade. Um estudo da Associação de Psicologia dos Estados Unidos concluiu que, a cada ano, uma criança comum assiste a mais de 40 mil comerciais, que geralmente sugerem que posses estão diretamente relacionadas à felicidade, beleza e sucesso, o que pode levar a comportamentos materialistas como mecanismo de superação quando as crianças não alcançam os ideais publicitários.


“As crianças nem percebem o que é uma propaganda quando são pequenas — simplesmente observam algo e acreditam que é incrível”, afirma Marsha Richins, professora de marketing da Universidade de Missouri.


Estudos constataram que alertar antecipadamente crianças a respeito de conteúdos publicitários manipuladores pode aumentar o ceticismo delas e reduzir seu desejo pelo produto. Chaplin afirma que os pais podem ajudar os filhos verificando alegações e mostrando-lhes como ter um pensamento crítico em relação aos produtos. Por exemplo, se pais e filhos estiverem assistindo a um programa juntos e virem uma propaganda sobre um novo celular, é a oportunidade perfeita para dizer: não compraria esse celular porque tenho um que funciona perfeitamente bem.


Ênfase na construção da autoestima. Em vez da ênfase em objetos materiais como indicadores de sucesso, estimule as crianças a se concentrarem na construção do que Richins denomina “recursos intangíveis”. Incentive-as a desenvolver amizades e buscar interesses que aumentem a autoestima sem depender de bens materiais — mostrando que o sucesso e as realizações não vêm necessariamente do consumismo.

O materialismo está intrinsecamente relacionado com a baixa autoestima, acrescenta Chaplin. Uma ótima maneira de promover a autoestima é passar um tempo de qualidade com os filhos e participar de atividades apreciadas por eles. “Não sentirão mais a necessidade de se apegar a objetos fugazes para aumentar a autoestima se já tiverem uma autoestima elevada”.


Encontrando melhores maneiras de ser feliz

Em geral, a renda não é um forte indicativo de felicidade, mas estudos com adultos demonstram que é possível gastar o dinheiro extra de maneiras que têm mais probabilidade de deixar as pessoas felizes. Assim, embora as crianças provavelmente ainda não tenham sua própria fonte de renda, os pais podem começar a desenvolver esses hábitos desde já.


Converse com seus filhos sobre desejos e necessidades. Ajude-os a entender o valor dos produtos e, ao mesmo tempo, como priorizar gastos, explica Chaplin. Segundo ela, por exemplo, quando uma criança pede algo, é recomendado iniciar uma conversa sobre desejos e necessidades: por que o que querem é único, quanto custa e quanto de seu próprio dinheiro precisaria ser poupado para comprar. “É surpreendente a profundidade da análise das crianças ao refletir sobre suas necessidades e desejos quando se trata do dinheiro delas”, conta ela. As crianças geralmente acabam valorizando mais a economia feita para comprar algo que realmente desejam.


Pratique a gratidão e a generosidade. Níveis mais altos de gratidão estão associados a níveis mais baixos de materialismo. Pesquisadores sugerem que o motivo é que a gratidão aumenta os sentimentos de segurança, bem-estar e generosidade, o que, por sua vez, reduz a ênfase em objetos materiais como meio de conforto e felicidade. Além de diminuir o materialismo, a gratidão está associada a um desempenho escolar melhor, níveis mais baixos de depressão e vínculos sociais mais fortes.


Em um estudo, Chaplin e seus colegas pediram a adolescentes que escrevessem todos os dias a quem e pelo que eram gratos em um diário sobre gratidão. “Depois de cerca de duas semanas, sentiram que precisavam de menos objetos materiais em suas vidas”, revela ela. “E não só isso, sentiram ainda que precisavam dividir o que tinham com os outros.”


Os pais podem estimular a gratidão no estilo de vida da família, praticando atividades como doar brinquedos com os quais os filhos não brincam mais. “As crianças percebem que possuem bens materiais em excesso e que podem compartilhá-los com outros que não têm o suficiente.”


Invista em experiências — e ajude as crianças a se recordarem delas. Sucessivas pesquisas com adultos indicam que compras de experiências proporcionam uma felicidade mais duradoura porque geralmente há uma conexão por meio de experiências compartilhadas — e não por objetos materiais. Apesar disso, crianças muito pequenas normalmente têm mais felicidade a partir de objetos materiais. Então, quando ocorre essa transição nas crianças? A transição está ligada ao desenvolvimento do cérebro.


“Sempre ouço queixas de pais arrependidos de terem levado seus filhos em uma viagem à Europa porque seus filhos não gostaram”, afirma Chaplin. “Mas a capacidade de memória infantil é ineficiente até certa idade.” Ao contrário dos objetos tangíveis, as experiências costumam ser fugazes e abstratas — e as crianças simplesmente não se recordam delas muito bem.

À medida que as crianças crescem, sua capacidade de memória e lembrança se desenvolvem e passam a conseguir lidar com informações abstratas. É quando aprendem a valorizar mais as experiências. “Passam a notar que ninguém gosta de conversar sobre os tênis recém-comprados, mas todos querem saber o que fizeram no fim de semana”, explica Chaplin.


Os pais podem ajudar os filhos mais novos a aprender a valorizar as experiências, ajudando-os a se lembrarem delas. Souvenirs ou presentes são objetos concretos que podem lembrá-los das férias em família, mas também é possível criar memórias sem vínculos com objetos materiais, conta Chaplin. Ela recomenda tirar fotos e fazer vídeos de festas de aniversário, das férias e do tempo em família para todos recordarem juntos. Porque quando as crianças começam a se lembrar de experiências agradáveis, é mais provável que façam escolhas futuras que aumentem a felicidade.





Fonte: NatGeo

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